A tarde caía calmamente com um sabor de
Outono. As folhas, matizando o chão com cores suaves, despediam-se de um verão
que terminava.
A
tonalidade da tarde deixava no ar uma atmosfera romântica que não há poeta ou
pintor que não a queira retratar; Uma ode, um cantar lírico, um quadro como
homenagem a este entardecer.
Fico a sorver este final
de tarde como uma melodia de Chopim. Procuro inspiração para um poema. A beleza
da natureza deixa em mim uma energia renascida, como uma canção de embalar.
Entardece; ainda há
pessoas no jardim, ainda há pessoas que passam com os segundos contados.
Cruzam-se, tropeçam esquecendo o dia que passa, ou o Outono que chega e não
reparam na poesia da vida, a sensibilidade das coisas. O frenesim das pessoas,
o movimento, tudo me parece interminável.
Hoje descobri que a vida é
um tesouro; algo importante demais para ser deitado fora. Tão importante, que
me apetece remediar erros antigos, pecados supérfluos, endireitar veredas, até
sentir que tudo está perfeito; mas reparo que o dia cai e a minha idade com
ele.
Então sigo devagar por
entre a ténue luz que ainda sobra no horizonte; bebo estes instantes de paz que
passam por mim como um néctar; O ocaso ainda é uma fina faixa luminosa.
Ao longe um grupo de
idosos sentados conversam amenamente. Ao lado, um cão dormita aos pés do dono
que segura uma bengala entre as mãos. Um casal idoso passa com a descontracção
dos dias, com a juventude que fica dos dias passados. Curiosa semelhança com
este fim de tarde e este fim de vida. A tranquilidade do dia e a calma do seu
andar, com o pôr-do-sol ao fundo. O fim do dia e o fim de uma vida já gasta de
canseiras.
De mãos dadas, revivendo talvez outros tempos,
também olham este pôr do Sol como eu, vivem-no como eu o vivo neste momento,
com um romantismo idêntico ao meu, embora outras recordações, outras sensações,
outro prazer que não o meu. Eu olho-o com esta sensação de o estar a observar.
A vida, às vezes, passa tão depressa que por
vezes nem damos conta dela. Ou então não queremos! Este fim de vida é como um
repensar tudo o que se fez, uma análise retrospectiva, um acumular de
experiências e ensinamentos que só agora se tem o sabor, o envelhecimento certo
para a apreciar. A paz que nos chega diferente, mais saborosa e madura, a
natureza que nos enlaça. A hora em que ficamos na expectativa de pôr um ponto
final a uma vida.
Que sentido poderá ter a vida depois de sermos
massacrados, bombardeados e torturados com notícias de raptos, assaltos,
violações, direitos humanos, poluição, guerras e mortes, um ciclo vicioso ininterrupto?
Que pensarão as pessoas disto, da vida? E do fim? Como é tão desigual de pessoa
para pessoa o sentido de tudo isto! Como é que há apatia para tudo?!
Se a vida fosse romântica como este
entardecer?! Se a vida soasse como um poema?! Se o olhar humano sorrisse como
os olhos de uma criança?!
É imperioso repensarmos a vida, de acalmarmos
o stress de guerra, o stress do dia a dia, abdicarmos da mesquinha e vã cobiça
e, em fez de correr para o nada, caminhar para coisa alguma; Sem esquecer a
poesia da vida, caminhemos seguros de que assim chegaremos ao fim vitoriosos.
Eu deixo-me embalar por
este pôr-do-sol até ser um ponto luminoso no horizonte. Como serei eu no meu
entardecer da vida?
Concurso “Ambiente Comcurso
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