Na berma do passeio uma criança
chorava. As suas lágrimas copiosas lavavam-lhe a cara suja. Umas mãos negras,
já calejadas e envelhecidas, com umas unhas também negras, esfregavam uns olhos
encharcados de dor. Ao lado um balde cheio de cimento esperava ser
transportado. Uma voz ríspida e sonora soou como um trovão:
- Então, isso
vai ou não!
E a criança, cujas forças se perdiam no cansaço e nos ombros que mostravam
os ossos em sangue, arrastou o balde num esforço desumano e em soluços
continuou a chorar.
A obra não podia parar. O patrão tinha
dinheiros a receber e isso era mais importante.
O dia, que também era cinzento, chorou de
tristeza pela criança.
SPA 2001 autor: Orlando Martins
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