Anoitecera. A fraca luminosidade foi dando lugar ao
mundo das sombras e as cores vivas da natureza perdiam agora todo o seu
esplendor.
Corria um
vento fraco, soprando forte de vez
No caminho
mal iluminado pela lua, sinuoso e com pedras grandes a atrapalharem o andar,
uma mulher caminhava quase que por instinto um percurso que mal via.
Perto dela
ouvia-se um corujar incerto, quebrando o silêncio rígido da noite. Cheia de
medo, a mulher seguia o caminho, tateando os passos, procurando tomar coragem
para continuar.
A coruja
voltava a dar o seu sinal pesado e sombrio, sem se mostrar, nem localizar a sua
presença. Um bater de asas ouviu-se, ameaçando a noite.
A mulher
tremeu, suplicou, benzeu-se.
À sua frente tudo era como breu e ela nada
mais distinguia para além disso. Querendo desistir parava indecisa no caminho; arrependia-se,
mas continuava.
O corujar e
o bater de asas de novo aos seus ouvidos amedrontando, avisando-a de algo que
ela não percebia.
A meia-lua iluminava mal meio caminho e
tudo em redor lhe parecia bidimensional e indefinido. As sombras surgiam-lhe
vivas e ameaçadoras.
A mulher
continuou o seu percurso corajoso e decidido. Na curva do carreiro uma mão,
persuasiva e destemida, surgiu-lhe a chamar por ela. Toda ela tremeu, suplicou,
invocou os santos e benzeu-se de novo!
A mão
voltava a chamar uma e outra vez! O corujar de novo, como se fosse uma voz
vinda daquela mão! Por todo o lado um silêncio fúnebre e pesado fazia-se
sentir.
Sem pinga de
sangue, sem forças e vencida pelo medo, a mulher petrificou no caminho,
suplicando a proteção de Deus. A mão voltava a chamá-la uma e outra vez,
imperativa e cativante.
- Ai Jesus, Nossa Senhora, Credo!...Deus
me valha! - Implorava a mulher com medo.
E benzia-se
de novo e a mão de novo a chamava!
Tomando
coragem avançou. Perdida por cem, perdida por mil! Ao mesmo tempo o vento
uivava e a mão chamava sempre, mais eficaz, mais enérgica e sinistra, sem sair
do lugar, como se quisesse que a seguisse.
Então a
mulher decidiu aproximar-se devagar e enfrentar esse alguém que a chamava;
perguntar-lhe o que queria, dizer-lhe que era uma humilde criatura de Deus, que
nada tinha de seu e nem pretendia nada de ninguém; e se viesse por Deus que a
ajudaria no que pudesse e soubesse e que rezaria por ela nos seus terços a
Nossa Senhora.
Aproximou-se. Foi então que viu que a mão que a chamava, era um simples
ramo de árvore que abanava ao vento.
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