O dia estava frio, mesmo frio e por
isso decidi vestir-me mais a rigor, uma camisa tipo pescador, uma camisola de
lã de gola alta, o meu casaco de Inverno e segui caminho.
Na rua os vendedores ambulantes do
costume, os ciganos, o homem das castanhas, os pedintes habituais. A estes olho-os
com alguma lástima, sentindo-me um sortudo pela minha condição, que para mim
poderá ser mísera, mas que, concordo plenamente, existem pessoas bem piores do
que eu, cuja existência se resume a um vegetar diário que só deus sabe porquê.
Nestas ocasiões sigo o meu caminho
sem olhar para os lados, só para não dar de caras com nenhum deles a pedir-me o
que não posso e por vezes não quero dar. Oiço histórias de muitos que vivem
bem, têm uma boa casa, por vezes carro e andam nesta vida porque querem e a
esses não tenho sequer dó.
Num destes dias em que saí de casa,
por sinal muito mais cedo do que o habitual, deparei com uma criança que repetia,
quase que ininterruptamente:
- Dêem-me alguma coisinha, tenho
fome!
A princípio não liguei, confesso,
mas depois de ter parado por alguns momentos a posicionar-me na questão e do
miúdo me puxar literalmente pela calça, acabei por lhe dar uma moeda.
-
Pague-me uma sopa, senhor! – Pediu o garoto.
Tocou-me cá dentro algo que nunca
antes sentira, algo que me sensibilizou e me fez levar o garoto ao café mais
perto e pedir uma sopa e um pão. Observei-o atentamente a devorar a sopa e a
comer com satisfação o pão. Dei por bem empregue o dinheiro que paguei. Acabei
por beber um café, é claro, mas apenas para não estar só a olhá-lo.
Um outro que pedinchava o mesmo a
quem entrava no estabelecimento dirigiu-se a uma senhora que bebia uma bica ao
balcão:
- Pague-me um bolo.
A senhora, vendo o meu gesto quis
imitar-me. O garoto mal ouviu a palavra sopa respondeu num ápice:
- Coma-a você! – E saiu disparado
porta fora, rogando pragas à bondosa senhora.
Prémio de Participação 1º
Jogos Florais 2002
Sem comentários:
Enviar um comentário