terça-feira, 30 de julho de 2024

Sobre a fé do Homem

 

Nos primórdios do século XX e na antiga União Soviética e baseado na doutrina comunista, dizia-se que a religião era o ópio do povo. Sendo ópio é inebriante e satisfatório, tal como esta droga; e do povo porque precisa sempre de crer em algo para se sentir satisfeito e assim ter forças para suportar as agruras desta vida.

         Ter fé é ter esperança num futuro melhor, muito mais sorridente e ameno, com muito menos sofrimento e muito mais abastança de víveres. Ter fé é ter forças para se poder suportar as acritudes da vida e sobretudo nunca perder a esperança.

         O poder, especialmente o poder governante, gosta de se aproveitar deste sofrimento para incutir esforço e dedicação a um desenvolvimento económico que nunca é, nem nunca foi, favorável ao pobre.

         Desta forma também e religião se aproveita deste sofrimento para inspirar uma vida melhor, um aperfeiçoamento espiritual invisível e pouco material, que em nada, ou quase nada contribui para o melhoramento económico das famílias, ou do ser humano em particular.

         Desta feita e muito embora se possa dizer que nem só de pão vive o homem, o que pode ser uma verdade irrefutável, o certo é que o corpo alimenta-se e veste-se com a necessidade de um valor monetário como moeda de troca entre o produto que se quer e o valor que se tem para se adquirir esse mesmo produto. Para isso é imperioso que o Homem trabalhe e desenvolva uma atividade remuneratória que seja suficiente para obter tudo o que necessita para uma vida digna. Eis a questão!

         Entenda-se, vida digna, aquela que se tem sem sofrimento de grande monta, com todas as necessidades para um bem-estar físico e espiritual do individuo humano. Sobre este ponto creio que ninguém tem duvida. Está incluído na declaração universal dos direitos do homem para que conste e se faça cumprir para um melhor estilo de vida.

         Até aqui tudo bem. Ora o que se poe em causa é que tem o direito de ter essa mesma vida digna e quais asa necessidades básicas para uma vida muito mais facilitada. Se sempre houve ricos e pobres, se sempre houve distinções entre o ser humano e se sempre se aproveitou deste facto para se estabelecer as hierarquias, sempre as nossas atitudes uns para com os outros será diferente e marcará essa mesma diferença no nosso comportamento. Logo esta cláusula importa na declaração dos direitos do homem é letra morta; pelo menos é imposta aos outros, feita universal, feita regra, mas sobretudo e desde que não se olhe para os defeitos de quem legisla. Olha-se para o archeiro alheio e não para o nosso próprio olho.

         Ao poder interessa esta mesma diferença, este desequilíbrio económico sob pena de poder perder a sua força e o seu prestígio. Nada mais incomoda a quem manda do que aquele que sabe mais, ou que sabe suportar sabiamente todo e qualquer sacrifício com dignidade, sobretudo e desde que não se deixe pisar, nem subjugar às imposições do seu superior.

         Ora sendo a religião o ópio do povo, interessa a quem governa que o povo seja deveras religioso e principalmente acate as ordens sem as questionar, aceite sem raciocinar e caminhe para, e por onde o poder bem entender. Sendo assim, também a própria religião pode dominar e controlar as populações, fazendo-as acreditar nas verdades que só para ela e segundo as suas conveniências, pode interessar.

         Cícero disse certa vez no senado romano a um comparsa seu que ao povo nunca se deveria dar rédea solta sob pena de eles, os poderosos do país, perderem este mesmo poder. Era e é uma boa forma de se manterem por cima e dominando tudo. Neste aspecto religião e poder andam de mãos dadas.

         Podemos conjeturar sobre a existência, ou não, de Cristo, de Deus e da virgem Maria, podemos presumir a existência de uma outra vida, ou não, crer nesta ou naquela religião como sendo a verdadeira que nada mudará entre os governantes e os governados. Digo mais…entre o povo crente e seja quais forem as religiões. Porque se existe Deus tem forçosamente de existir o diabo. Se existe o bem, tem de existir forçosamente o mal. Dê-se lá o nome que se der.

         A fé está na crença de cada um e nada tem a ver com o poder que nos governa, nem mesmo com a religião que nos orienta. Nada tem a ver com as imagens que temos daquilo que supomos ser da divindade. Ela não deveria, a meu ver, ser materializável. Essa é a grande dificuldade do Homem. A mente humana precisa de visualizar fisicamente o invisível, de o tornar palpável para o poder entender. Sob este ponto de vista uma imagem de Cristo, ou de Nossa Senhora não será mais do que uma imagem materializada de algo que nunca vimos. Essa imagem é que não deve ser adorada, mas sim tudo aquilo que se sente quando nos dirigimos ao divino.

         Independente das crenças está sempre a nossa visão das coisas da vida, o nosso entendimento e o nosso caminho a percorrer será sempre segundo o nosso ponto de vista. Para isso é que somos um animal comunicativo e essa ser a nossa característica como humanos. Vivemos para comunicar uns com os outros e nos entendermos. Essa é a grande questão da humanidade.        

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