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domingo, 16 de junho de 2024

Na Capoeira


       Logo pela madrugada o galo cantou, mostrando com essa proeza a sua bela voz. Fechou os olhos e como gostou de se ouvir, repetiu a façanha três vezes. Orgulhoso de si mesmo, desceu o real poleiro, inchando o papo e com uns abanões de asas, descarregou a sua excitação.

       A poedeira, de pena malhada, espantada com a gritaria que as outras fizeram, protestou a falta de sossego, pondo em alvoroço o galinheiro. Uma outra que pelos cantos cacarejava a vontade de pôr um ovo, acabou também protestando a sua desconcentração. As restantes, de nervos em franja, cacarejavam a falta de milho nos comedouros e deitaram as culpas ao galo, senhor daqueles domínios. Os galarotes mais pequenos tentavam aproveitar-se da situação galando alguma franga desprotegida que surgisse.

       Sentindo-se atingido na sua dignidade pela falta de respeito, sacudiu à bicada os galarotes mais atrevidos; e, impondo o respeito, sentou-se no seu real poleiro sofrendo a ferida que sentiu na dignidade.

 

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