Logo pela madrugada o galo cantou, mostrando com essa proeza a sua bela
voz. Fechou os olhos e como gostou de se ouvir, repetiu a façanha três vezes.
Orgulhoso de si mesmo, desceu o real poleiro, inchando o papo e com uns abanões
de asas, descarregou a sua excitação.
A poedeira, de pena malhada,
espantada com a gritaria que as outras fizeram, protestou a falta de sossego,
pondo em alvoroço o galinheiro. Uma outra que pelos cantos cacarejava a vontade
de pôr um ovo, acabou também protestando a sua desconcentração. As restantes,
de nervos em franja, cacarejavam a falta de milho nos comedouros e deitaram as
culpas ao galo, senhor daqueles domínios. Os galarotes mais pequenos tentavam
aproveitar-se da situação galando alguma franga desprotegida que surgisse.
Sentindo-se atingido na sua
dignidade pela falta de respeito, sacudiu à bicada os galarotes mais atrevidos;
e, impondo o respeito, sentou-se no seu real poleiro sofrendo a ferida que
sentiu na dignidade.
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